Olá, meu velho Umberto!
Faz tempo que não conversarmos. Tantas coisas aconteceram na minha vida nesses últimos tempos que estamos sem nos falar. Sei que olhas por mim e que tudo sabes do faço por aqui por esse mundão que tanto nos desafia.
O lançamento do livro com as nossas conversas que eternizou minhas lembranças e apresentou você aos meus amigos e pessoas que me querem bem.
A disputa para a prefeitura de Manaus, em que tantas vezes te coloquei nos meus pensamentos para ter forças, seguir em frente e enfrentar tantas covardias de que fui vítima.
Não tenho dúvidas de que pegaste na minha mão e tocaste meu coração para manter a minha serenidade, minha paz e, acima de tudo, a minha esperança, sentimento sem o qual tudo deixa de valer a pena.
Várias vezes fechei meus olhos nos momentos mais difíceis e pude ver você ao meu lado, com aquele rosto sempre sereno que ainda guardo na lembrança, mesmo passados mais de 30 anos da tua ausência física.
Foi a ti que elevei meu coração e meu amor com o nascimento do José Umberto – assim mesmo, Umberto com U, como você e em sua homenagem – que alegra a nossa casa com seu sorriso e que já começa a aprender a andar e emitir os primeiros sons.
Sempre preciso fechar os olhos para ver você sentando na sala pegando seus netos no colo e brincando com eles. Apresentando a eles a pequena Maria Carolina que já é uma mocinha e sempre está ao seu lado.
Deus é maravilhoso, Pai. Desde aquele 5.10.1985 sempre guardei no meu coração o desejo de ter um filho para colocar o seu nome. Veio o Gabriel, veio a Marcela e quis Deus que chegasse o José Umberto que por aqui, como você sabe, chamamos de Príncipe.
Vou fechar os olhos como sempre faço para para sentir o teu abraço, o teu cheiro, para te ouvir, para contar a você os meus segredos, os medos e as minhas alegrias.
Isso. Pegue na minha mão, vamos caminhar um pouco. Vamos lembrar dos nossos dias por aqui. Dos domingos pela manhã com Roberto Carlos, Maria Betânia e Chico da Silva no último volume para nos acordar, daquele jardim cheio de rosas, muito rosas, que cuidavas com tanto amor, da viagem pelo nordeste naquele passat verde, do futebol no campo da Embrapa que hoje leva o teu nome, das viagens para Parintins, dos meus jogos de voley que você me surpreendia aparecendo na arquibancada.
Fora tantos momentos bonitos. Você foi tão presente, meu velho, que até a saudade é boa. Claro que doi. Claro que eu te queria aqui ao meu lado. Mas a saudade é mais de lembranças felizes que de dor. O coração apertar, as lágrimas surgem, mas vem na cabeça um dia bom, um momento feliz, um fato engraçado e o sorriso abre.
Sabe, Pai. Cada vez mais acredito na presença de Deus na minha vida e na força que aproxima bons sentimentos e bons corações. Deixa eu te contar.
Você caminha sempre comigo, sempre presente no meu pensamento e no meu coração. Mas hoje, por ser seu aniversário, há uma presença ainda maior e ela me acompanha desde que acordei.
Cedo dei bom dia para a Juliana, brinquei um pouco com a Marcelinha e o com José, foi fazer a minha corrida, voltei, troquei de roupa e vim para o trabalho e você sempre ao meu lado, como se desde que acordei estivéssemos assim como estamos agora, de mãos dadas, andando pela vida.
Abri o computador e resolvi ouvir uma das músicas que mais traz você a minha lembrança. Quase sempre lembro de você pelos momentos felizes, mas essa música tocou quando carregávamos o seu caixão e ficou guardada no meu coração de menino.
Quero sentir o teu abraço e ouvir deitado no teu colo, como um homem de 43 anos que de repente volta a ser aquele menino de 12 e pode reescrever uma história. A história da vida que eu teria se Deus não tivesse decidido que era hora de te levar. Vamos ouvir em silêncio.
Fica sempre, um pouco de perfume
nas mãos que oferecem rosas
nas mãos que sabem ser generosas
Dar do pouco que se tem
ao que tem menos ainda
enriquece o doador,
faz sua alma ainda mais linda
Dar ao próximo alegria,
parece coisa tão singela
aos olhos de Deus, porém,
é das artes a mais bela
Lembra pai? Letra tão simples, tão bonita, tão cheia de lições que a humanidade precisa ouvir.
Mas preciso te dizer que quando cheguei ao trabalho, assim que comecei a música, recebi a ligação do meu amigo Tenório Telles, meu amigo de alma, meu conselheiro, voz de paz e de esperança na minha vida.
Falamos de amizade, de gestos, falamos de laços construídos com amor, com carinho, com afeto, com querer bem. Falamos simplesmente sobre ter preocupações verdadeiras com quem amamos, sobre carregar nossos amigos e nossos amores sempre nos nossos corações pra onde quer que vamos, sobre ignorar o tempo, a distância, os medos para simplesmente amar o próximo.
Pai, aqui por baixo precisamos entender mais esses sinais que aproximam as pessoas e criam entre elas laços de amor. Quando fatos como esse que te conto acontecem, não são meras coincidências, é o desejo de Deus de resgatar a pureza no coração das pessoas.
Desde a primeira vez que conversamos no dia do seu aniversário em 2011 que imagino a comemoração por ai. Fecho mais uma vez os olhos e vejo um imenso e belo jardim, com muitas flores em todas as cores e tons, um imenso campo de uma grama muito verde. Uma mesa branca e ao redor homens, mulheres, crianças, idosos, todos vestidos de branco. Posso ver sua netinha Maria Carolina, já uma mocinha, Vô Manuel, Vô Maria, Vô Artur, tia Isabel, seu amigo Leonardo. Todos os rostos são muito tranquilos e felizes e todos comemoram com você.
Meu Pai, meu Velho Umberto, toca o meu coração, sente como ele pulsa cheio de amor, de saudade e de boas lembranças. Enxuga as minhas lágrimas que descem pelo rosto. E me abraça. Um abraço forte, daqueles que podemos sentir o pulsar dos corações, daqueles tantos que deixamos de dar porque acreditávamos num amanhã que nunca veio depois daquele domingo (6.10.1985).
Sempre chega a hora de ir e essa é a hora do aperto no peito, mas também da alegria de saber que sempre estarás na minha vida. Parabéns, meu velho. Saudades!