Ei pai. Tá por ai? Lembra a farofa de ovo que você fazia pra mim? Você ia jogar dominó na casa do seu Zé Cordeiro e eu adorava ir junto, mesmo sem ter nada pra fazer lá. Ficava tomando todo o café, brincando de sinuca e peruando o dominó. Pensava no dia que sentaria na mesa com o senhor. Não deu tempo, né pai?! Deus te levou antes que eu pudesse pra fazer dupla contigo. Mas já falamos sobre isso.
Eu quero mesmo é falar da farofa de ovo. Na volta, parávamos no Popeye pra fazer um lanche, mas eu preferia quando você fazia comida pra mim. Lembrei disso porque eu estava aqui na sala e o Gabriel pediu pra eu fazer farofa de ovo.
Engraçado, pai, como eu senti orgulho disso. De levantar e fazer farofa de ovo pro Gabriel. Ele comeu, foi dormir e eu fiquei aqui na sala pensando como essas pequenas coisas tornam-se imensas quando chegam ao coração. Será que um dia ele vai lembrar da farofa de ovo, como eu lembro da que você fazia pra mim?
Acho que a única forma que tenho de ter certeza de que ele lembrará é sendo um bom pai, alguém de quem ele sinta orgulho e que lhe dê a segurança necessária na caminhada. Pai, você foi isso pra mim nos 12 anos que estivemos juntos, por aqui – digo: por aqui, porque, na verdade, sinto que estamos juntos sempre – foi meu exemplo e meu porto seguro.
Pai, tio Fernando deve está ai com você. Lembrei dele também, quando peguei o feijão gelado na geladeira e misturei com a farofa de ovo. Ele sempre comia feijão gelado quando ia jogar dominó lá em casa. Ele apronta muito por ai? Porque aqui, o Boquita, era uma grande figura, sempre alegre e espirituoso. Mande um beijo pra ele.
Pai, eu vivo uma fase especial da minha vida. Mais maduro, mais perto da minha família e muito mais feliz.
Engraçado como são essas coisas simples da vida que ficam guardadas pra sempre na lembrança e no coração. As vezes, em algumas famílias, sobra dinheiro, sobra poder, mas falta farofa de ovo com feijão gelado.
Vou fechar os olhos pra sentir teu abraço…Obrigado pai. Boa noite.