É pai! A nossa última conversa deu o que falar. É bom despertar bons sentimentos nas pessoas. Fazê-las refletir e dar valor a quem se ama. Foram tantas mensagens emocionantes que o senhor nem imagina – imagina sim, vocês dai imaginam tudo e sabem tudo. Pessoas mandaram mensagens falando das lembranças dos seus entes queridos, do abraço que há tempos não davam nos seus pais e que correram pra dar após lerem o artigo, alguns falaram em reconciliar a família. Foi emocionante.
Mas hoje, estou aqui de novo. Hoje 14.12.2011 é teu aniversário, pai. Completas 66 anos, sem teres completado 40. Você não deve saber porque ainda não estavas habituado por ai, mas no dia do teu aniversário de 40 anos (14.12.1985), pouco mais de 2 meses do dia que Deus te levou para o lado dele, entrei no banheiro do teu quarto e no armário ainda estavam os teus sapatos. Chorei tanto. Eu era só um menino de 12 anos. Calcei um sapato teu, pai.
Naquele dia, calçado com aquele sapato muito maior que o meu pé, eu me senti você. Mais que isso, eu senti que eu teria que ser você para ajudar a minha mãe a segurar o seu sofrimento e a manter a nossa família. A responsabilidade que pesou sobre mim naquele momento era tão desproporcional a minha idade, como aquele sapato era ao meu pé.
Eu já te disse que sinto saudade. Mas não tem egoísmo nessa saudade. A saudade é de te tocar, te abraçar, olhar nos teus olhos. De poder de chamar pra jantar, de jogar dominó contigo (tu gostavas tanto), de te ver com Gabriel no colo. Ainda que contigo eu divida minhas conquistas e também minhas angústias, que eu me aconselhe, não ouvindo as tuas palavras, mas lembrando teus exemplos e as referências que ouço dos que conviveram contigo, falta o toque. Quando passei no vestibular… Quando o Gabriel nasceu… Quando eu casei… Quando eu me elegi vereador ou deputado… Quando o Rodrigo se formou… Quando o Betinho nasceu… Agora que vai nascer a Valentina…
Pai, eu ajudei a minha mãe a cuidar da nossa família, a passar os teus últimos 26 aniversários mantendo tua memória nos nossos atos, na nossa conduta, nos nossos valores, na nossa forma de olhar o próximo. Acho que conseguimos.
As vezes, me pego imaginando como seria se o senhor estivesse aqui. Onde estaríamos? Que história teríamos construído? Quem seríamos? Pai, é absurdo eu agradecer a Deus por ter te levado? Nesses últimos 26 anos, foste tão presente em exemplo, em força e em inspiração para a nossa família, que eu não sei se poderia ser melhor. Claro que queríamos você ao nosso lado, mas Deus tinha outra missão, não teria sentido nos indignar contra ela.
Mas conta… Como estão as coisas por ai? Tem festa? Vovô Manuel, Vovó Maria, Vovô Arthur – teu sogro que tanto te amava – estão por ai? E a Maria Carolina, nosso anjinho? Tá com ela no colo!? Dá um beijo nela por mim.
Sabe pai, naquele nosso primeiro papo aconteceu uma coisa estranha, uma gostosa coincidência. Quando acabei de escrever nossa conversa já era madrugada, o senhor lembra, e veio com muita força na minha lembrança o Tio Leonardo, que era nosso vizinho lá na Ica Paraíba. Pensei em escrever sobre ele. Quando voltei para o computador, tinha uma mensagem do Saulo, filho dele, lembrando a história de amizade das nossas famílias. Isso foi muito forte porque eu já tinha sonhado você me dizendo que morava com ele ai. Vocês sabem tudo daqui, mas parece que nós sabemos também algumas dai. Sei que ele é seu melhor amigo por ai e, com certeza, está comemorando seu aniversário ao seu lado.
Pai, vamos cantar os parabéns. Chama o vôs, a vó, a netinha, o Tio Leo e quem mais tiver por ai com você. Vou fechar os olhos pra te ver…
A mesa tá tão bonita, tantas flores. Vamos dar as mãos, pai. Segura apertado. Antes do parabéns, vamos rezar… Amém. Que o Deus que acolheu todos vocês, possa nos guiar, proteger e conduzir aqui.
Pai, obrigado por tudo. Parabéns. Um dia estaria ai ao teu lado pra dar aquele abraço guardado há 26 anos.