Tia Chica, Naka (ela pede que grife com k porque é mais chique) e Baranda são três parintinenses contadoras de histórias. Foi empapuçando-me com uma caldeirada de bodó no tucupi que ouvi seus relatos com a graça que só se encontra em mulheres condenadas a propagar por gestos e palavras a alegria de viver e de amar.
O deputado Totó.
É contagiante a alegria de Naka relatando o convite que certa vez recebeu para o lançamento da candidatura a deputado estadual de um cidadão chamado Totó. Não que Naka fosse envolvida em política, mas o convite para um encontro no Bar Natália (na esquina em frente ao Salão Grajaú e ao lado do Colégio Militar de Manaus) era a certeza de cerveja de graça e cerveja ela não dispensava nem paga.
Naka e sua turma chegaram cedo e foram logo bebendo por conta. Um confiado pediu também um tira gosto. Uma porção de queijo bola fatiado com pão francês fatiado e esquentado com manteiga Cabeça de Touro. Por via das dúvidas certificaram-se de que tinham o dinheiro suficiente para a conta do tira gosto, já que a gelada certamente iria para o lombo do candidato.
Depois de quase uma hora, chegou o candidato. Como qualquer candidato, apertou a mão dos convidados, deu tapinha nas costas e fez seu pequeno discurso, marcado por promessas mirabolantes e absolutamente inexequíveis, mas que arrancou aplausos entusiasmados dos convidados, já animados com o derrame de cerveja.
Para sorte de Naka e sua turma, depois de circular, o candidato sentou justamente na sua mesa. Agora, a certeza de que até o tira gosto iria para conta de campanha. Pediram logo mais um.
Totó entusiasmou-se com a conversa. Falou das suas promessas de campanha. Explicou o motivo do seu apelido, dado por uma vizinha fofoqueira que insistia em comentar que o garoto parecia um cachorro vira lata – um totó – de tanto tempo que ficava perambulando pela rua. No começo a vizinhança usava o apelido apenas pelas costas. Depois virou implicância com o garoto e, por fim, com a sua irritação, virou seu nome na boca da molecada e acabou incorporado.
O candidato ainda bebericou um ou dois copos de cerveja, distribuiu seus santinhos, recebeu entusiasmadas promessas de votos e de apoio, mas logo levantou agradeceu a presença de todos – já não cumprimentou de um por um como fizera na chegada – e, para surpresa e desespero de Naka e sua turma, despediu-se dizendo:
- Eu até gostaria de pagar essas cervejas pra vocês, mas estou sem dinheiro hoje.
E foi saindo sem qualquer possibilidade de reação dos seus “eleitores”, paralisados pelo desespero de ter que assumir a conta.
Sem dinheiro pra pagar a conta, penhoraram os 5 relógios. É óbvio que nunca voltaram pra pegar…